MARE NOSTRUM

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TURNER

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

SOBREVIVÊNCIA NO MAR



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POON LIM - náufrago à deriva numa jangada, no Atlântico Central, durante 130 dias, no ano de 1942 - máximo conhecido de sobrevivência no mar sem víveres



INTRODUÇÃO

A sobrevivência no mar depende mais de factores psíquicos do que físicos.
Podemos eleger a vontade de viver como o factor mais importante.
Relembremos aqui o que deixámos escrito no artigo Navegação em Solitário:
“(...) alguns náufragos como o chinês POON LIM, recordista de sobrevivência no mar sem víveres, marinheiro do cargueiro inglês Ben Lomond, que em Novembro de 1942 foi torpedeado e afundado no Atlântico, tendo passado 130 dias no mar antes de ser encontrado por pescadores a 10 milhas da costa brasileira num estado físico – não mental – lamentável.”

Em situações críticas, tenhamos presente as palavras do poeta: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”. Valorizemos a vida sem que nos abandonemos à morte, seja qual for o sofrimento que nos esteja a ser infligido ou que possamos infligir a nós mesmos. Tenhamos em mente todos os que sofreram e sobreviveram às condições mais adversas e degradantes, tais como os judeus nos campos de concentração nazis e alguns prisioneiros em estados ditatoriais.
O pânico não o medo, que é uma reacção natural – deve ser evitado a todo o custo, já que pela sua irracionalidade conduz à angústia e perda absoluta do controlo sobre si mesmo. A farmácia de bordo deve estar munida de alguns medicamentos que o possam aliviar – v.g., alprazolam (esqueça-se aqui a necessidade de receita médica...). Pode também o náufrago fazer uso de um mantra de carácter religioso ou profano, procurando manter-se ocupado com uma qualquer tarefa, porquanto a solidão e o tédio acabam por conduzir fatalmente à depressão, com a consequente falta de vontade de viver.
Caso se trate de um grupo de navegantes, estabelecer de imediato uma hierarquia, evitando a discórdia, outro perigo que não pode ser menosprezado.

Só sobrevive quem nunca da vida desiste.


O navegador deve ter sempre consigo um “equipamento de sobrevivência”, a utilizar em caso de naufrágio ou de avaria grave no seu barco. Deve ter um plano de sobrevivência traçado em linhas gerais, que será adaptado às circunstâncias do caso concreto no menor espaço de tempo possível.
Numa jangada ou barco acidentado mantenha o calor do corpo, preservando os pés, as mãos e a cabeça. Coloque os pesos no centro e não esqueça o espelho e a lanterna para se sinalizar a possíveis meios de salvamento aéreos ou marítimos.
Não esquecer no equipamento de sobrevivência, linha de pesca, anzóis e algumas amostras.

O enjoo surge numa balsa nos primeiros dois ou três dias. Distribuir comprimidos pela tripulação.

Navegando em zonas tropicais ou equatoriais, proteger a pele com cremes adequados.


No mar, se não tiver um espelho a bordo – o que não deve acontecer – use uma lata ou qualquer objecto com qualidades reflectoras. Faça um orifício no meio e use-o como apontador. Os reflexos podem ser avistados a milhas de distância, mesmo em dias brumosos.




ÁGUA


A água é um dos bens essenciais num naufrágio ou numa travessia.
Se o homem se mantiver fisicamente inactivo poderá sobreviver sem água 10 dias, desde que a temperatura não ultrapasse os 10º C.. A 32º C., talvez resista 7 dias e com temperaturas elevadas, de 45 a 50º C., 2 ou 3 dias. Mas tendo água em quantidade suficiente, pode sobreviver sem comida cerca de 50 dias.

Havendo dúvidas sobre a qualidade da água, esta deve ser fervida por alguns minutos. Podem também usar-se pastilhas desinfectantes que devem estar a bordo no estojo de primeiros socorros.

Não devemos beber água do mar. A elevada concentração de sal faz com que os líquidos do corpo sejam drenados para eliminar o sal. Nesta perspectiva, é provável que em determinadas situações os rins deixem de funcionar.

No entanto, alguns navegadores em situações de carência fizeram-no, bebendo-a moderadamente em pequena quantidade. Para além dela bebiam um copo de água doce diariamente.
Atente-se ainda na experiência de Bombard – narrada no artigo NAVEGAÇÃO EM SOLITÁRIO - que demonstrou a real possibilidade de sobrevivência em qualquer local de pesca, alimentando-se de peixe e de plâncton, bebendo água do mar durante um máximo de 4 dias, não ultrapassando em caso algum um litro diário repartido em pequenas doses, até encontrar peixe, sem se desidratar – colocava-se imediatamente dentro de água logo após a ter bebido.

Agora perguntamo-nos:
Como é que o Dr. Bombard obtinha a água que não fez transportar na jangada com que atravessou o Oceano Atlântico?
Muito simplesmente do soro fisiológico dos peixes, que conseguia espremendo-os ou chupando a sua carne, que depois cuspia, bem como da água da chuva que esporadicamente recolhia por métodos expeditos.

Ou seja, o soro fisiológico dos peixes, obtido por espremedura é um óptimo substituto da água.

Podemos improvisar uma espécie de cone com a maior área possível tendo no centro cravado um tubo que fará fluir a água da chuva para um recipiente.
A água proveniente do orvalho da noite pode ser recolhida com uma esponja da superfície da embarcação, espremendo-a depois para uma vasilha.

Caso se esteja a navegar em zonas “geladas” podemos obter água do gelo que tenha mais de um ano, por perder o sal decorrido que esteja um ano ou mais. Reconhece-se pelos cantos, que são ligeiramente arredondados e pela cor azulada.
Nestes climas pode também obter água doce a partir da água do mar. Coloque a água do mar num recipiente e deixe-a congelar. A água doce congela quando a temperatura atinge 1 grau C.. Daí o sal concentrar-se como uma pasta no centro da água doce já congelada. Apenas tem de remover o sal e o que resta é água praticamente doce. 

A água da chuva pode ser captada por métodos expeditos.




PESCA

 

No seu equipamento de sobrevivência, o navegador deve ter linhas de pesca, anzóis e amostras.

Se não tiver, terá de improvisar a linha através de tiras de pano forte que atará umas às outras; os anzóis de uma lasca de madeira atada ao meio e envolvida com isco (depois de o peixe a engolir, puxamos a linha e a lasca de madeira atravessa-se no seu estômago, permitindo que o icemos para bordo); por outro lado, uma moeda ou outro pequeno objecto de cores ou brilho atractivo devidamente amarrado à linha junto do anzol, fará as vezes da amostra.

 

Não pesque caso pressinta tubarões por perto, nem deite quaisquer restos pela borda. No caso de ter um peixe no anzol e note a aproximação de um tubarão, não o recolha, deixe-o na água.

 

- Num veleiro à aproximação de baleias e tubarões, ponha o motor a trabalhar)



Tenha em consideração que nas águas tropicais existem centenas de peixes venenosos. De preferência consuma apenas os que conhece.
Os peixes venenosos têm geralmente formas pouco vulgares, pele dura coberta de uma espécie de placas ósseas, pele coberta de espinhos e bocas finas.


Exemplos de peixes venenosos (-) e com secreções venenosas:
-         Lamantim
-         Peixe-aranha
-         Peixe-balão
-         Peixe-gato
-         Peixe-lima
-         Peixe-lua
-         Peixe-ouriço
-         Peixe-pedra
-         Peixe zebra
-         Raia-lixa


Lampreia
Moreia
Peixe-saboeiro
Peixe-sapo


Nas ilhas tropicais, nomeadamente em certas zonas do Índico, Pacífico e nas Caraíbas, existem pequenas algas azuis-esverdeadas nos recifes, que produzem uma toxina denominada Ciguatera. Daí, que alguns peixes, principalmente os que se alimentam de algas, facilmente identificáveis pela sua boca em bico, semelhante à de um papagaio, podem estar contaminados pela mencionada toxina e entrando na cadeia alimentar de peixes com maior porte, como a barracuda e o lúcio, podem causar envenenamentos.
Testar sempre nestes locais os peixes, comendo apenas uma pequena porção e aguardando algumas horas para verificar a reacção.

Evitar tocar e comer, alforrecas, anémonas-do-mar e esponjas.



Coma o peixe cozinhado ou cru. Contrariamente ao que se pensa o sabor do peixe cru não é nem salgado nem desagradável.

 

 

 

 AVES, PLÂNCTON E ALGAS


As aves são todas comestíveis. Muitas poisam nas jangadas, nos barcos e existem relatos de navegadores solitários que as apanharam à mão.

Quanto ao planctôn, conjunto de plantas e animais microscópicos em suspensão nas águas e que está na base de muitas cadeias alimentares, e que pode ser apanhado por intermédio de uma espécie de âncora flutuante, existem sérias dúvidas se deve ou não ser utilizado na alimentação dos navegantes em dificuldades.

As algas de folhas verdes, castanhas e vermelhas contêm cerca de 25% de proteínas e 50% de hidrato de carbono. São também fonte de iodo e de vitamina C.




ALGAS COMESTÍVEIS

Alface-do-mar
Dá-se no Atlântico Norte e nas costas do Pacífico.
Lava-se usando como a alface.

Bodelha-doce
Alga castanha de sabor doce, que se encontra nas costas do Atlântico e nas da China e do Japão.

Laminária
De cor castanha ou verde-azeitona.
Vive agarrada ao fundo do mar.
Cozer antes de comer.

Líquen-irlandês
Encontra-se no Atlântico.
Usar o método de cozedura.

Rodiménia-vermelha
Encontra-se no Atlântico e no mar Mediterrâneo. Gosto adocicado.
Come-se fresca ou seca.

 

 

 

LIMPEZA, HIGIENE E CUIDADOS SANITÁRIOS


Não sendo possível lavar a roupa, deve a mesma ser exposta ao sol durante algumas horas, em especial a interior.

Os dentes devem continuar a ser lavados. Caso não tenha ao seu dispor pasta dentífrica, use preferencialmente bicabornato de sódio. Também pode utilizar sabão ou sal de mesa.

Numa jangada é natural que a urina do náufrago fique quase negra – é normal e não constitui sinal de patologia grave.

As erupções na pele provocadas pela água salgada devem ser mantidas secas.

Manter os pés quentes e secos, com meias lavadas ou expostas com frequência ao sol, activando a circulação por intermédio de massagem. Faça exercícios na posição de deitado elevando as pernas e os pés.

Nas zonas quentes, na falta de repelentes, tome cápsulas de alho para afastar os mosquitos do seu corpo.



Ver o artigo PRIMEIROS SOCORROS.



TUBARÕES E BALEIAS

Temos conhecimento de navegadores que viram os seus barcos atacados por baleias e tubarões. Em regra, se a aproximação destes animais for grande, denunciando cuidados, bastará ligar os motores.







JOSÉ MARIA ALVES
(PATRÃO DE ALTO MAR)

(SITE PESSOAL)

(BLOGUE PESSOAL)


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