MARE NOSTRUM

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TURNER

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

TEMPORAL NO MAR

 

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PRIMEIROS PROCEDIMENTOS

Com o aviso de mau tempo ou pela leitura barométrica associada aos restantes factores que enunciámos no artigo BARÓMETRO – INTERPRETAÇÃO SIMPLIFICADA, o Patrão ou o marinheiro mais experiente a bordo, assume o comando da embarcação.
O barómetro “cai” rapidamente, o vento aumenta de intensidade e o mar encapela-se.
É de todo necessário agir com urgência.
Se perto de uma costa ou de um cabo, na impossibilidade de atingir porto seguro atempadamente, fuja para o mar. Não se esqueça nunca de que o que existe de perigo no mar é a terra...
Escolher o segmento da tempestade – ver infra.

Distribuem-se as tarefas em função do número de tripulantes e das capacidades objectivas de cada um.
Existindo vários tripulantes encurtam-se os quartos para 2 horas. Dois tripulantes no convés e dois na cabina.

Os tripulantes envergam o arnês e o colete, por cima de vestuário apropriado.
A balsa salva-vidas é imediatamente verificada. Tem de estar solidamente fixada ao barco, em local onde seja fácil o seu arremesso ao mar. Tenha-se em atenção que o cabo de disparo deve estar convenientemente amarrado ao barco. Por outro lado, considere-se que esta deve ser a última das soluções: a embarcação só deve ser abandonada quando esteja em risco de naufrágio.



O estojo de primeiros socorros, com a medicação que possa vir a ser necessária – medicação de urgência, de sobrevivência e específica de algum dos tripulantes -, deve ser colocado em local acessível da cabina, bem como os sacos ou mochilas estanques de navegação de emergência e de sobrevivência. Estes reforçarão o material que está no interior da balsa salva-vidas e que nem sempre é suficiente para suprir as necessidades dos náufragos.

Envergam-se as velas de mau tempo ou reduz-se o pano, rizando-se pelo método convencional ou por intermédio dos enroladores – de genoa e da grande quando o barco deles esteja munido.
Neste último caso, prepara-se o estai volante, já que a genoa rizada não é propriamente uma vela de tempo e por estar muito à vante origina um comportamento do barco a evitar num temporal.
Se as velas de tempo não forem utilizadas de imediato, devem estar acessíveis e não no fundo das locas ou em locais menos apropriados.

Preparam-se os sacos de lona cheios de desperdício e colocam-se em local acessível com os recipientes com óleo vegetal.

Na cabina acomodam-se todos os objectos de modo a que não fiquem soltos e verifica-se o fecho dos ventiladores e das escotilhas.
Quando possível, os pesos a bordo não devem ser colocados nos extremos – a menos que se consiga alguma proporcionalidade –, mas no centro do barco, para evitar um acentuado balanço de Proa e Popa.
As válvulas de fundo, como as do lavatório, lava-loiças e da sanita, são imediatamente fechadas. Apenas se voltam a abrir quando o equipamento for utilizado (o que deve ser evitado) tendo-se o cuidado de as fechar em seguida à sua utilização.

Verificar a fixação das baterias. Antes do temporal chegar, se para tal tiver tempo, carregue-as pondo o motor a trabalhar.

Verifique e corrija a estiva nas locas.

Fixar o material do convés, nomeadamente o pau de spi. O ferro ou ferros devem estar bem acondicionados de modo a que não se movimentem no paiol.

Prepare uma refeição quente e encha os termos com bebidas quentes – café e chá.
É fundamental que os tripulantes se mantenham quentes, confortáveis, alerta e tranquilos, tranquilidade que deve ser transmitida pelo Patrão da embarcação.
Actuar com determinação nos primeiros sinais de enjoo com a medicação apropriada, e no pânico, inicialmente com um placebo, depois com um homeopático e caso não resulte com uma dose baixa de alprazolam de 0,25 ou 0,50 nos casos mais graves, mantendo o tripulante na cabina.

Ao montar o estai volante verificar se a escota da vela da proa passa pela vante do cabo de aço.

Arrume e prepare a mesa de navegação.

Verifique os brandais.

Verifique cuidadosamente todas as linhas de vida. É nesta altura que vai perceber a utilidade de uma linha de vida no fundo do poço, permitindo que o tripulante se possa amarrar logo que sai da cabina para o convés.



VENTO JUNTO DAS COSTAS – breves notas

O vento que sopra da costa é pior do que o que sopra do mar.

Em regra os ventos levantam-se com uma maré alta e decaem com a maré baixa.

Quando a chuva aparece antes do vento, a situação é de uma gravidade superior à de quando a chuva surge depois do vento.

Uma linha escura na água poisada no horizonte é devida ao levantamento de ondas por efeito do vento.

Vento de Leste e de Nordeste – não confiar.

Grandes nuvens negras mesmo que isoladas podem provocar grandes rajadas de vento. Acautelar o aparelho.

Como a terra aquece e arrefece mais rapidamente do que o mar, durante a tarde surgem ventos do mar para a terra (Viração) e durante a madrugada e manhã geram-se ventos da terra para o mar (Terral).
As brisas, que não excedem 10 nós, surgem 3 horas depois do sol ter nascido e de se ter posto, formando-se a 15 milhas da costa durante o dia e durante a noite a 10 milhas.

No Verão, como consequência do aquecimento das planícies andaluzas e alentejanas, deparamo-nos com as nortadas, vento de NW que sopra ao logo da costa portuguesa, bastas vezes com uma força elevada. Costumam terminar ao cair da noite, recomeçando na tarde do dia seguinte.

O Levante é um vento de leste, que sopra com força elevada fazendo elevar a ondulação. Estende-se por alguns dias (4 ou 5) de Gibraltar até ao Cabo de S. Vicente.
Os navegadores desta zona devem estar atentos ao aparecimento súbito de ventos de Oeste ou de ondulação SE – provavelmente terão de se deparar com o Levante.  





TEMPORAL

Ouvi vários marinheiros, alguns solitários, afirmar que em condições drásticas de tempo no oceano se limitavam a deixar o barco enfrentar o temporal, fechando-se na cabina. Eu próprio já fiz essa experiência e ia-me saindo mal...
É uma teoria. Contra a força do mar, a não-resistência, a cedência, e daí a indiferença do mais poderoso relativamente ao insignificante – o mar é imenso e o barco pequeno e frágil.
No entanto, sem mais, a embarcação pode ser apanhada por uma forte ressaca ou por uma poderosa onda no través e a nossa teoria será mais uma a apresentar como erro no Reino dos Mortos. Daí a importância da capa com a sua âncora como veremos no artigo específico.
Outros vão um pouco mais longe: Baixam as velas, amarram o leme a sotavento e utilizam uma âncora Danforth, fazendo com que o barco cavalgue a onda com o mínimo de segurança.

Do mesmo modo nunca devemos deixar o barco correr mais depressa do que o mar, sob pena de ser constantemente submergido pelas ondas. É preferível arrastar uma âncora de mar a 5 braças de profundidade, do que imitar Vito Dumas nos “quadragésimos rugidores” – veja-se o artigo NAVEGAÇÃO EM SOLITÁRIO.





TEMPESTADE – HEMISFÉRIOS NORTE E SUL
Na aproximação do temporal necessitamos de escolher a rota mais segura, afastando-nos quanto possível do centro da tempestade.

-         Analisando o catavento, ou improvisando um, tal como uma fita de pano presa ao um brandal, verificar qual a direcção exacta do vento.
-         O navegador vira-se na direcção do vento.
-         Levanta o braço direito lateralmente.
-         Seguidamente desconta a largura de uma mão para trás, tendo como referência o ombro.
-         Estará a apontar para o centro da tempestade.

Se o vento for de Oeste para Leste, veja se o barco virá a ser atingido pela parte mais a Norte ou a Sul da tempestade, dirigindo-se em seguida para as direcções que se indicam:

A NORTE DO EQUADOR »
Rumar para o segmento Norte, Oeste ou Noroeste da tempestade.

A SUL DO EQUADOR »
Rumar para o segmento Sul, Oeste ou Sudoeste da tempestade.

Vejamos:
No hemisfério Norte, virados na direcção do vento, firmamos o centro de baixa pressão à nossa direita.
Estando ao norte dessa depressão, estaremos no que podemos denominar “sector de manobra” e temos de fugir da depressão.
Estando a sul da depressão, caso não consigamos fugir, restar-nos-á a capa. O sector Sul é em regra um sector de relativa perigosidade.


TEMPESTADE TROPICAL
Explicando-nos de forma similar para uma tempestade tropical:
Estando com o rosto virado para o vento verdadeiro, o centro da tempestade tropical irá encontrar-se de 9 a 11 quartas à nossa direita no hemisfério Norte e à nossa esquerda no hemisfério Sul.
-         Tenhamos em consideração que esta regra é válida se o centro da tempestade estiver a mais ou menos 200 milhas náuticas de distância do barco.
Por outro lado, no barómetro devemos ter uma marcação de 5 milibares abaixo da média e o vento ter pelo menos a força 6.
      
No hemisfério Norte o barco está no semicírculo perigoso, quando o vento ronda no sentido do movimento dos ponteiros do relógio e no semicírculo de manobra se o vento rondar no sentido contrário desse movimento.
No hemisfério Sul, se o vento ronda no sentido dos ponteiros do relógio a embarcação encontra-se em zona de manobra, caso contrário está na zona de perigo.
Quando o barco se encontra na trajectória da tempestade, mantendo-se o vento na mesma direcção e aumentando a sua intensidade, enquanto que o barómetro desce, vamos enfrentar a situação mais perigosa de todas as que poderíamos encontrar.


Podemos calcular, ainda que de modo pouco rigoroso a distância a que o barco se encontra do centro da tempestade:

BAIXA BAROMÉTRICA/HORA  - -    DISTÂNCIA AO CENTRO

0,6 milibares - 250 Milhas
  2 milibares - 150
  2,5 milibares - 100
  4 milibares - 80
  5 milibares - 50




ENFRENTAR AS ONDAS

Quando o vento atinge violentamente a parte superior das ondas, provoca inelutavelmente o avanço das cristas e dá origem a rebentações no próprio barco.
Uma das formas de o evitar consiste em espalhar na superfície da água algum óleo, que forma uma espécie de película à superfície dificultando em consequência a aderência do vento ao mar. Desta forma a rebentação é eliminada.

PROCEDIMENTO
-         Tenha a bordo em função do comprimento do barco, 3 ou quatro sacos de lona cheios de desperdício;
-         Estes sacos devem ser furados com uma agulha grossa (ex. de palombar);
-         Verta 1 litro de óleo vegetal por saco;
-         Pendure-o(s) na borda até à linha de água;
-         SE DE CAPA »
-         Os sacos são colocados no bordo de mau tempo, distanciados 2 metros.
-         DE CAPA, APROADO AO MAR »
-         um ou dois sacos à proa.
-         COM MAR DE TRAVÉS »
-         Sacos no bordo de mau tempo.
-         CORRER COM O TEMPO »
-         Desde que a velocidade não seja superior a 5 nós.
    


CAPA

A capa é usada para enfrentar um temporal ou para o solitário poder dormir, na ausência de piloto automático.
Podem ser usadas ou não velas, âncoras flutuantes. O barco não anda, quase não anda ou abate, deixando em certos casos que o mar lhe passe por cima, comportando-se como um objecto a flutuar com leveza num mar encapelado.

Não esquecer que numa jangada ou num barco acidentado no meio de um temporal, uma âncora de capa será preciosa para manter a proa virada ao vento.


CORRER COM O TEMPO

Com ventos fortes, não podemos avançar à bolina nem navegar de través. Aí, haverá que prosseguir rumo com o vento na alheta.


FUGA CONTROLADA

Com ventos muito fortes, ondas alterosas com rebentação ameaçadora e velocidade excessiva, o leme começa a não obedecer e o barco pode atravessar-se de través.
É o momento para fugir controladamente, travando o andamento com cabos ou âncora Danforth.





Veja-se o artigo TEMPORAL – A CAPA – CORRER COM O TEMPO – FUGA CONTROLADA






JOSÉ MARIA ALVES
(PATRÃO DE ALTO MAR)

(SITE PESSOAL)

(BLOGUE PESSOAL)


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